quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Donamara: amadurecimento "Baseado em Fatos Reais"


Uma análise sobre a banalização dos sentimentos e pensamentos, a reflexão sobre um cotidiano revoltante e o testemunho de quem enxerga e relata a atual situação da sociedade. Estes são os elementos utilizados pela Donamara para criar o seu novo conceito musical.
Atualmente, a banda é composta pelos jeronimenses Anderson Machado, Eduardo Sigaud, Fernando Ruch, Filipe Osanai e Vinícius Nunes. A ideia de formar a Donamara surgiu, lá em 2007, após o fim de outras bandas que os componentes integravam, e o nome escolhido para batizar o grupo foi uma homenagem a falecida mãe do baterista Anderson, o “Xom”.
- Fizemos umas ligações, combinamos uns ensaios e "oficializamos" a união. Batizamos a banda de "Duffy", fizemos alguns shows legais com esse nome e quando decidimos levar todo o projeto mais a sério, homenageamos a falecida mãe do nosso baterista Anderson - que era uma pessoa especial pra nós - com o nome da banda. Por isso, "Donamara" – contam.
O som da Donamara vem evoluindo gradativamente, tanto nas composições quanto na musicalidade e experiência de palco da banda. Esse crescimento ficou ainda mais nítido após o lançamento do EP “Baseado em Fatos Reais”, que aborda temas como o amadurecimento pessoal, a preocupação com o futuro da humanidade e a importância do pensamento livre de preconceitos e limitações. A música de trabalho, “Rosa dos Ventos”, fala sobre a falta de humildade dos que tem muito, enquanto o clipe, que teve cenas gravadas no centro de Porto Alegre, mostra a imagem de um mendigo procurando o que comer no lixo.
- Como todo ser humano e como toda banda, tudo amadurece. Não foi diferente com a gente. Começamos compondo músicas simples e com letras simples. Cansamos. Queríamos uma letra que fizesse as pessoas refletirem, com arranjos trabalhados e criativos, agregando todas as nossas influências nas músicas. A música e clipe de trabalho abordam temas sociais importantes para um país como o Brasil, onde pouca gente tem muito e muita gente tem pouco – comentam.
Sobre o começo da trajetória da banda, eles contam que as dificuldades nunca foram uma barreira. Para a banda, a mudança no estilo musical favoreceu o crescimento da repercussão do trabalho.
- Sempre fizemos bastante covers nos shows, pra podermos vender o mesmo, assim, agradando a grande massa. De alguns anos pra cá, decidimos apostar somente nas nossas músicas e nas nossas composições. O lançamento desse novo trabalho, tanto o EP "Baseado em Fatos Reais" quanto o clipe da música "Rosa dos Ventos", teve uma repercussão média, porém muito positiva. Como vivemos em uma época onde Sertanejo e Pagode tomam conta, sobra pouco espaço pra nós. Muitas pessoas nos elogiaram pelo enfoque das letras e o impacto social que o clipe causou. Mas ainda não estamos satisfeitos. Queremos uma gravação de maior qualidade, queremos caprichar ainda mais nas letras e deixar a música cada vez mais rica. Estamos só começando – revelam.
Conciliar a vida profissional e pessoal também é um dos desafios da banda. Falta de tempo e dinheiro são os vilões da história, mas não impedem que o trabalho tenha continuidade.
- O maior impasse pra que consigamos nos focar na banda são as nossas atividades paralelas. Todos trabalham e estudam. Alguns, inclusive, nos finais de semana. Como somos uma banda independente, tudo sai do nosso bolso. Tudo é caro. A maioria dos shows que fazemos é de graça, porque ninguém quer pagar cachê pra uma banda que "não enche a casa" ou que "ninguém conhece". Os CD's vendem pouco, o dinheiro não retorna. É muito mais pra nós do que para os outros. Só seguimos nisso porque a gente ama. Se dependêssemos de dinheiro pra manter a banda, ela provavelmente já teria acabado – concluem.


Galeria de fotos:


Confira o clipe de "Rosa dos Ventos": 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Professora ao cubo


Conforme estatísticas da Secretaria Estadual de Educação, a rede de ensino do Rio Grande do Sul conta 48.663 professores, distribuídos em 2.572 escolas nos 496 municípios do Estado.
Fabiana de Moura Serpa, 31 anos, professora de matemática que leciona em Charqueadas, General Câmara e São Jerônimo, cidades da região carbonífera do estado, também é um desses milhares de profissionais que por diversas vezes abrem mão da sua vida pessoal para disseminar sua sabedoria e conhecimento. Ela viaja diariamente por vinte e dois quilômetros até o seu primeiro destino, e inicia sua jornada pontualmente às 7h45min, da maneira mais tradicional possível: escrevendo num envelhecido quadro negro, com um giz branco e outro amarelo, na Escola João Canabarro, em General Câmara.
Durante seus turnos de trabalho, com muita paciência e dedicação, Fabiana enfrenta três realidades completamente diferentes: crianças de até dois anos do Ensino Infantil, adolescentes do Ensino Fundamental e Médio, e o EJA (Educação e Jovens e Adultos), que conta com alunos das mais diversas faixas etárias. Em meio a problemas matemáticos, expressões numéricas, frações e fórmulas de cálculo, o brilho que Fabiana carrega no olhar ao falar sobre sua escolha profissional mostra o orgulho que ela sente em ser professora.
Considerando a distância que compreende o trajeto entre as Escolas João Canabarro, que fica em General Câmara, Carlos Arno Pretzel, que se localiza em São Jerônimo, e a Escola Vila Cruz de Malta, em Charqueadas, Fabiana percorre cerca de cinquenta quilômetros diariamente para dar suas aulas.
- Moro em Charqueadas e preciso estar em General Câmara às 7h30min. Então, tenho que sair de casa às 6h45min para não me atrasar. O fato de as três cidades em que eu dou aula serem próximas facilita a minha locomoção e a adaptação com essa rotina. A distância não chega a ser um grande problema, mas é um dos fatores que dificulta, pois torna o dia muito mais cansativo – comenta.
Em dez anos de carreira, Fabiana calcula que tenha tido aproximadamente 1.000 alunos. A amizade que é construída com eles diariamente, ao lado da tão temida matemática, se fortalece pelo carinho com que os estudantes têm com a professora. Ela garante que sempre conseguiu estabelecer uma boa relação com todos eles, relembrando carinhosamente de alguns fatos.
– Nunca tive problemas com alunos, sempre fui respeitada. Acho que por ser professora de matemática, eles ficam mais apreensivos com a minha aula e tentam prestar mais atenção no conteúdo. Eu procuro ter uma relação de amizade com eles. Muitas vezes, no meio da aula surgem assuntos que não são ligados à disciplina, mas que são do interesse da turma, e eu procuro não limitá-los no sentido de expressarem-se – revela.
Preocupada com os rumos que a educação tem tomado, ela também ressalta que a presença dos pais na escola é fundamental para o crescimento do aluno, tanto no aprendizado quanto no amadurecimento pessoal.
- A única coisa que eu noto neles, cada vez mais, é a falta de limites. Também sinto falta da presença dos pais na educação dos alunos, de virem à escola, de perguntarem sobre o comportamento dos filhos, se eles têm alguma dificuldade. Uma vez chamei para uma conversa os pais de um aluno que não prestava atenção na aula e que obtinha resultados ruins nas avaliações. Depois disso, ele se tornou o melhor da turma, não só na minha disciplina, mas em todas as outras. Por isso acho importante essa participação da família no ambiente escolar, é bom pra todas as partes, todos tem a ganhar – acredita.

Como todo bom professor, Fabiana estabelece alguns métodos de aplicação de conteúdos e de avaliações. Atenciosa, ela tenta tornar o ensino da matemática mais leve e simples, pois sabe que a disciplina exige um esforço maior por parte dos alunos. Além de dominar os números, Fabiana também domina totalmente o andamento das aulas, que mais parecem uma conversa amigável sobre cálculos.
- Claro que existe a cobrança, mas procuro fazer isso da maneira mais agradável possível. Tenho um sistema de carimbos, especialmente com os alunos do 6º ano, que funciona da seguinte maneira: quem fez a lição, ganha uma carinha feliz no caderno, que no final do trimestre vale alguns pontos extras, como motivação pelo esforço no trabalho, e eles valorizam muito isso. Ao final do ano letivo, faço um balanço do que fiz e do que poderia ter feito em aula. Analiso tudo que foi proposto e realizado, sempre buscando melhorar o andamento das aulas e o desempenho dos alunos para o próximo ano – afirma.

Educação infantil, um gratificante desafio na trajetória de Fabiana

Meio-dia. Depois do almoço, Fabiana precisa percorrer mais doze quilômetros até o seu próximo desafio: cuidar de crianças de cerca de dois anos de idade que estão na fase inicial de aprendizado, na E.M.E.I Carlos Arno Pretzel, em São Jerônimo. Lá, a rotina de conteúdos é completamente distinta do restante do dia, pois ela lida com alunos que estão aprendendo a falar e que por isso necessitam de uma atenção diferenciada do professor. Durante a tarde, a professora desenvolve atividades educativas, brincadeiras e demonstra grande preocupação ao tomar conta das crianças, num cuidado quase materno.
- Eles nos contam muitas coisas de casa, eles têm a necessidade de falar sobre isso. Na maioria das vezes, não pedem conselhos ou opiniões, querem apenas contar o que acontece. Aprendi muito com meus alunos da Educação Infantil, é uma experiência desafiadora e gratificante. As crianças entram aqui sem saber falar, ou falando poucas palavras, e a gente vê toda a evolução e crescimento deles. É uma coisa fantástica, surpreendente, não sei dizer bem o que é. Isso me fascina - conta emocionada.


Ensino Médio e EJA durante a noite

Mas o dia de Fabiana ainda não acabou. À noite, ela percorre mais dez quilômetros até Charqueadas, onde dá aula para turmas de Ensino Médio e EJA. Ela relata que os alunos desse turno, por serem mais maduros e terem outras responsabilidades além da escola, demonstram grande interesse em aprender e vivenciar o ambiente escolar, para no futuro terem condições de passar no vestibular ou no ENEM.
- No EJA, a maioria do pessoal é muito interessada em aprender. Mas eu vejo que eles também buscam outras coisas na sala de aula, como trocas de experiências de vida com os colegas e também com os professores. Certa vez uma senhora, minha aluna no EJA, disse que ia pra aula pra fugir dos problemas de casa, e isso me marcou muito – lembra.

Ao final da noite, depois do longo dia de ensinamentos e aprendizados, Fabiana continua demonstrando amor e dedicação ao trabalho, apesar do cansaço.
- Se eu for fazer o cálculo, sei que muitas vezes estou pagando pra trabalhar, mas meu sonho sempre foi ser professora. Faço isso muito mais por amor à profissão do que por dinheiro. A rotina é desgastante, mas no final das contas vale a pena, pois, caso eu não gostasse de dar aula, existem outras opções de trabalho por aí. Já são quase dez anos de carreira, e apesar de tudo, não tenho do que me queixar. Uma vez, junto com outros professores, ouvi de um governante que ao aceitarmos esse cargo, sabíamos das dificuldades que enfrentaríamos, e que então não poderíamos reclamar. Gostaria que os governantes entendessem que ser professor não é somente uma missão, e sim uma profissão, que merece ser devidamente reconhecida – comenta.
Ela ainda conta que tem alguns outros sonhos a realizar, fica pensativa por um tempo e revela:
- Não quero parar de estudar, pretendo fazer mestrado, doutorado e dar aula em alguma universidade, sempre na área da matemática – conclui.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Criatividade em extinção





Direito autoral é a denominação utilizada para definir a posse de obras intelectuais, sejam elas literárias, artísticas ou científicas. Analisando essa definição, quais os princípios que deveriam ser levados em conta ao lidar com produção e distribuição de conteúdo atualmente? Com o crescimento e popularização da internet e a sua facilidade de disseminação e transferência de informações, essa questão está cada vez mais presente no nosso cotidiano, devido às recorrentes polêmicas envolvendo plágio e propriedade intelectual.
Conforme matéria do Estadão, o Brasil tem a 4ª pior lei de direito autoral do mundo, entre 24 países que foram analisados.  Esse desempenho deve-se a rigidez das leis de copyright do país, que não permitem sequer a cópia de obras para fins científicos ou educacionais. Essa preocupação e limitação deve-se, principalmente, ao famoso “jeitinho brasileiro”, que seguidamente explora brechas na lei para beneficiar os mais “espertos” e que julga inferior o esforço de terceiros. Segundo dados do ECAD - Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, em 2010 foram arrecadados no Brasil R$ 432.953.853,00 em direitos autorais de compositores, gravadoras e intérpretes musicais.  Em 2011, essa arrecadação foi de cerca de R$ 540.526.597,00, o que mostra um crescimento significativo nos resultados gerados pela cobrança feita pelo órgão, que fiscaliza e distribui essa renda.  Confira outras estatísticas do ECAD aqui.
A apropriação indevida de um objeto caracteriza furto. Por que com as ideias não pode ser igual? Talvez, no Brasil, essa questão seja muito mais de conscientizacional do que legislativa. Antes de punir, é necessário fazer com que se compreenda a gravidade desse tipo de infração. Controlar tudo que circula na internet, por exemplo, exige uma logística muito mais complicada do que criar campanhas eficientes de conscientização. Não se deve obstruir o acesso ao conhecimento e a cultura, mas isso não pode servir como pretexto para desrespeitar o trabalho de alguém que, assim como qualquer pessoa, precisa sustentar-se.
Poucos se dão conta, mas produzir conteúdo, seja informativo ou voltado ao entretenimento, requer preparação e pesquisa, e não pode ser tratado como mero serviço de utilidade pública, ou como obrigação de um ser iluminado que se alimenta por fotossíntese. O pensamento tem dono e não pode ser escravizado pela sociedade em defesa de valores que não se aplicam a outras áreas do mercado capitalista. Respeitar as idéias de outras pessoas, antes de tudo, é um sinal de evolução social, mas infelizmente ainda estamos muito distantes dessa realidade.




segunda-feira, 16 de julho de 2012

Os outros


A gente passa a vida procurando entender o que não pode ser entendido. Por que tomamos aquele pé na bunda? O que se passa na cabeça daquele traíra que só sabe ferrar todo mundo?
Descobri que isso definitivamente não me interesssa.
Sabe, depois de tanta incomodação, depois de tanto esforço jogado fora, chego a conclusão de que tentar entender as atitudes alheias é impossível (além de ser chato pra cacete). Não dá pra viver sendo refém do pensamento de terceiros, e muito menos esperando consideração e reciprocidade. A nossa vida é algo muito grande pra ser jogado nas costas de alguém que, assim como nós, não sabe o que fazer com ela. Se te decepcionaram, a realidade é que esse problema é todo teu. Nenhum contrato que te protegesse foi assinado, e nem poderia.
Não me entendam mal: não digo que ninguém merece confiança e todo esse blábláblá recalcado, só acho que esperar qualquer coisa de alguém é decepção na certa. O que a gente pode -e deve- fazer, é ser o melhor possível dentro das possibilidades que temos.
Corrigir nossas falhas, fazer algo por nós mesmos, correr atrás do que nos pertence. É isso que deve ser feito, e é isso que nos pode ser cobrado.
Ninguém tem a obrigação de corresponder as nossas expectativas, e isso é muito bom, pois nos livra automaticamente desse fardo. Procuro não pensar no que não consigo entender, concentro-me em ser alguém melhor. Assim, evito um baita desgaste, afinal, os outros são os outros e o que eles fazem não me diz respeito. Eu só sei de mim.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Porto Alegre vive Elis


Fones de ouvido, telas touch screen e imagens históricas de uma das maiores cantoras que o Brasil já conheceu. A mostra multimídia itinerante que teve início em São Paulo no dia 14 de abril e que já foi vista por mais de 30 mil pessoas chegou a Porto Alegre, no ano em que se completam três décadas que a maior voz da Música Popular Brasileira calou-se. O projeto “Viva Elis” conta a história da cantora gaúcha Elis Regina, apresentando um acervo com cerca de 200 fotos, áudios, jornais, revistas, pôsteres e figurinos que fizeram parte da história da “pimentinha”.


Todo o conteúdo em exibição na mostra que tem a curadoria de João Marcello Bôscoli, filho de Elis, e Allen Guimarães, foi selecionado com base nos arquivos da família, doações de fãs e de reportagens publicadas na imprensa.
Nascida em 17 de março de 1945, Elis Regina iniciou sua carreira aos onze anos de idade, em um programa infantil da Rádio Farroupilha de Porto Alegre. Em 1960, com apenas 15 anos, foi contratada pela Rádio Gaúcha e um ano depois gravou no Rio de Janeiro o seu primeiro disco, “Viva a Brotolândia”. Com uma carreira de rápida ascensão, tornou-se a voz mais famosa e aclamada do Brasil, mesclando estilos musicais como MPB, Jazz e Rock. Ao longo de sua trajetória, lançou 27 discos, 14 compactos simples e 6 duplos, e todos encontram-se digitalizados e disponíveis para serem ouvidos pelo público que visita a mostra na Usina do Gasômetro.

A exposição coloca o visitante em uma máquina do tempo, contando todos os passos da carreira de sucesso da cantora, desde o nascimento até a sua trágica e precoce morte, em 1982. Alguns dos figurinos mais famosos que Elis usou durante sua carreira são apresentados, retratando as maiores performances da cantora. Mais de 24 horas de vídeos com as suas participações em programas de televisão e shows também fazem parte do conteúdo interativo da mostra.
Desde o início da carreira, Elis mostrava sua personalidade forte com suas frases e opiniões polêmicas, e elas também ganham destaque na galeria de imagens, sons e cores que está exposta no saguão do Gasômetro. A apresentação desses fragmentos dos pensamentos da cantora são essenciais para construir o imaginário dos visitantes da exposição, tanto para quem conhece quanto para quem deseja conhecer a obra de um dos maiores ícones da música nacional.
A mostra fica no Gasômetro até o próximo domingo, dia 08 de julho, então ainda dá tempo de conferir!
Mais fotos da exposição:



domingo, 6 de maio de 2012

O título é o de menos

Seria muito mais facil se as coisas fossem faladas quando se quer falar ou feitas quando se tem vontade. Mas não, o caminho mais fácil é a fuga. E o mais covarde também.
Fugir é a maior fraqueza. Porra de clichê da ”vida sofrida”, só escolhe o que não presta e ainda quer reclamar do que acontece. Toda vez que entra numa fria, sabe bem onde tá se metendo, ninguém é inocente.
Não posso negar que algumas das artimanhas que esse joguinho apresenta são bem interessantes e dão um fôlego a mais, mas quando isso passa por cima das tuas vontades alguma coisa tá errada. Quer parecer forte, inviolável, mas deixa o medo te guiar. Grande ironia.
As pessoas adoram falar em sentimentos, se apoiando em romantismos ridículos, e não conseguem nem controlar a própria vida. Tudo bem, é uma opção válida, como modo de viver, mas se orgulhar disso me parece um tanto quanto infantil.
Me desculpem, mas é muita burrice ficar travando essa guerra diária do que ”tem que ser feito” contra o que ”deve ser feito”, tendo que se conter e medir todos os atos ou palavras. A ordem é fingir? Que vidinha mais medíocre, hein.
Parece que se tornou regra ter que mentir pra si mesmo, e o pior, acreditar nessa mentira. Eu gosto de poder confiar nos outros, embora nem metade das pessoas que eu conheço ou me relaciono mereçam essa confiança. Viver com medo de tudo e todos é paranóia, é o mais curto caminho pra loucura. Prefiro ser um iludido do que ser um desacreditado.
Tomar tombos é fácil, se levantar também. Difícil mesmo é não deixar que as cicatrizes te impeçam de viver.
Mas enfim, talvez um dia eu aprenda a ser assim também. Gente pra me ensinar é o que não falta.

sábado, 28 de abril de 2012

Por onde anda?


Sabe quando tu sente falta de sentir falta? Sim, isso mesmo, bem confuso. Sentir falta de ter de quem sentir falta.
É tipo ficar de braços abertos esperando um abraço que tu sabe que não vem, ou querer ganhar um sorteio no qual tu sequer apostou, achando isso a coisa mais normal do mundo.
Podem falar que a gente não precisa de ninguém pra ser feliz -e hoje eu felizmente concordo com isso- mas vai dizer que não é bom ter uma emoçãozinha de vez em quando?
É querer conhecer alguém e na despedida ficar pensando em quando será o próximo encontro. É ficar ansioso igual a uma criança, é não dormir na noite anterior... É frustrar-se quando algo sai fora dos planos e como num passe de magica, com um sorriso, esquecer-se de tudo de ruim que passou. É sentir-se inseguro por não saber o próximo passo a dar, ou totalmente seguro por palavras que foram jogadas ao vento e que por um descuido caíram nos teus ouvidos.
Sei lá, sabe. É viver. E isso faz muita falta, ô se faz...

sábado, 21 de abril de 2012

Mais uma vez

Arrumei a casa, depois de tanto tempo.

Eu prometi pra mim mesmo que não deixaria ninguém bagunçá-la dessa vez, afinal, reconstruir tudo não tinha sido nada fácil. Mas como meus planos nunca dão certo, mais uma vez eu deixei minha casa aberta, talvez por precisar que alguém a invadisse. Eu abri a porta, eu deixei que isso acontecesse, eu permiti que a bagunça fosse feita…

Mas no fundo, a gente sempre espera por isso, não é verdade? É bom saber que alguém tem esse poder na nossa vida. É bom sentir que uma pessoa, mesmo sem saber, sustenta o nosso mundo por alguns momentos.

Eu não me importo em recolher os cacos, nem em reconstruir as paredes que foram derrubadas, desde que tudo tenha valido à pena. O que importa, na verdade, é a trajetória, mesmo que o final não seja o esperado.

Mas aí eu me pergunto: não seria muita idiotice deixar a casa aberta sabendo que ninguém fica pra recolher o lixo? A bagunça é necessária, é o que move a nossa vida, é o que dá emoção. Mas eu quero mais que emoção. Quero além do passageiro. Quero algo maior do que aquele furacão de sempre. Quero alguém que fique. Quero destruir. Quero sentir. Quero viver. Quero tanta coisa…

É pedir demais?

quarta-feira, 7 de março de 2012

O quarto vazio

Tudo que mais me dá saudade fica guardado num quarto, trancado e sem iluminação, numa tentativa desesperada de sufocar o que ficou pra trás. De vez em quando, sinto necessidade de visitar esse ambiente nostálgico e cheio de mofo que são as minhas memórias. Novas ou antigas, elas sempre foram parte de mim, e é difícil livrar-se disso de uma hora pra outra. Ultimamente ando reparando no sumiço de alguns objetos de colecionador que eu insisto em guardar, como aquele relacionamento mal sucedido ou aquela amizade eterna que não durou. Acho que tudo isso, de alguma forma, tem fugido do meu controle. Não sei explicar como as coisas desapareceram, mas aquele lugar torna-se cada dia mais vazio e empoeirado. Relembrei tanto, gastei meu pensamento com tanta inutilidade, que acabei esquecendo de renovar a coleção. Tô aqui, parado e sendo ultrapassado por gente mais ágil e esperta do que eu.
Não é fácil ter vontade de reiniciar aquela busca, mas em momento algum eu cogitei que fosse tão difícil. Deve ser o medo de perder outra vez e ter que voltar pro quarto vazio... Demorei muito pra conseguir sair de lá.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Menos expectativa, mais realidade


O tempo vai passando e algumas das pancadas que tu toma durante a vida se tornam irreversíveis. Os foras, as brigas, aquele pé na bunda inesquecível, as decepções, enfim. Todo tipo de trauma, apesar de trazer alguns ensinamentos importantes, também têm suas consequências negativas. É aquele receio que sempre aparece antes de dar um novo passo, misturado com o medo de que as coisas deem errado mais uma vez. É o vício da derrota que não quer mais ir embora.
Como se faz pra recomeçar? Talvez eu esteja precisando de alguém. Alguém que me ajude a crer em tudo que eu faço questão de duvidar. Se a vida é tudo isso que dizem, pode ser que eu ainda não tenha sido apresentado à realidade. Ou podem ter me mentido sobre ela, mas isso não seria nenhuma novidade.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Quebra-cabeça


Um quebra-cabeça completo, ou incompleto, não sei definir. Só sei que a minha peça não se encaixa mais nele, e talvez isso não faça a mínima diferença.
Nós passamos muito tempo nos acostumando com as pessoas e com a rotina que a vida impõe, é inevitável sentir medo do futuro quando tudo isso acaba. Sempre gostei da sensação de pertencer a algum lugar ou grupo, e agora, tem sido difícil imaginar outras perspectivas, pela depedência que isso causa.
É como acordar um dia, olhar em volta e estranhar tudo. As pessoas, os ambientes, as ruas... Aquilo que um dia foi tão teu, e que agora nem de longe se parece com o que tu julgava essencial pra viver.
Essa é a questão, as prioridades da vida. Tu escolhe algumas, mas às vezes elas não te escolhem, e aí, tá feita a merda. Essas escolhas formam um quebra-cabeça, e eu não faço parte dessa coleção de peças que se encaixam perfeitamente.