quinta-feira, 9 de maio de 2013

Refletindo sobre o reflexo


Acordei de um jeito diferente, com uma sensação estranha. Algo tinha mudado em mim, mas não sabia definir. Olhei-me no espelho e parei para pensar na vida... Vejam só vocês.

Como se estivesse em um delírio inconsciente, comecei a viajar, e fui para bem longe, me lembrando de quando era pequeno. Olhei para as minhas mãos - elas cresceram muito pouco desde então - e senti saudade dos brinquedos daquela época (e do meu quarto cheio deles), de andar de bicicleta e viver esfolado, todo vermelho, pintado daquele mercúrio que ardia. Nossa, todas as comidas da minha avó tinham um gosto diferente e bom! É triste saber que nada daquilo vai voltar. Acordei descobrindo que o tempo é cruel.

Inevitavelmente, lembrei-me de todos os amigos que foram ficando para trás, alguns deles nem me reconhecem mais na rua. Junto com isso me vieram à mente todos os outros que chegaram e ocuparam aquele espaço que havia ficado vazio. Na vida, algumas coisas são substituídas por necessidade, outras por conveniência, e no fim das contas o que perdura é raro.  Acordei descobrindo o que é ser realista.

Olhei pro meu rosto, e não pude deixar de reparar em como mudei. Agora dou razão para as inúmeras amigas da minha mãe – aquelas que apertavam minhas bochechas incansavelmente – que nos encontram na rua e repetem, espantadas: “esse é aquele gurizinho que andava contigo em todos os lugares?” ou ‘’como ele cresceu... ’’. Eu cresci mesmo, analisando a altura, mas às vezes me sinto uma criança perdida, que não sabe o que faz nem para onde vai. É, acordei nostálgico.

Olhei pro meu cabelo.  Já foi grande, raspado, sujo... E como sempre, nunca fica do jeito que eu quero. Existem algumas semelhanças entre ele e a minha vida (guardadas as devidas proporções): está sempre caindo, às vezes cresce, de vez em quando tenho vontade de mudar tudo nele, e no fim das contas sempre tem alguém achando que ficaria melhor de outro jeito. Então eu parei de me olhar, essa viagem revisitando algumas delícias e mais alguns fantasmas já estava ficando tensa.

É muito estranho analisar a própria vida do lado de fora. Olho-me nesse reflexo do espelho e não vejo um cara de 22 anos que está na faculdade e que até já trabalhou – e foi demitido também –. Mais estranho ainda é lembrar-me de quando tinha uns 10 ou 11 anos e as pessoas ressaltavam minha maturidade precoce, que hoje em dia parece não se fazer mais presente. Estou indo no sentido contrário, então? Tudo mudou, e ainda não entendo.

Mas eu também mudei... E talvez aquele eu de um tempo atrás não se reconheça mais.  Acho que acordei para a vida, enfim.

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