Acordei de um jeito diferente, com uma sensação estranha.
Algo tinha mudado em mim, mas não sabia definir. Olhei-me no espelho e parei
para pensar na vida... Vejam só vocês.
Como se estivesse em um delírio inconsciente, comecei a
viajar, e fui para bem longe, me lembrando de quando era pequeno. Olhei para as minhas
mãos - elas cresceram muito pouco desde então - e senti saudade dos brinquedos
daquela época (e do meu quarto cheio deles), de andar de bicicleta e viver
esfolado, todo vermelho, pintado daquele mercúrio que ardia. Nossa, todas as
comidas da minha avó tinham um gosto diferente e bom! É triste saber que nada
daquilo vai voltar. Acordei descobrindo que o tempo é cruel.
Inevitavelmente, lembrei-me de todos os amigos que foram
ficando para trás, alguns deles nem me reconhecem mais na rua. Junto com isso me
vieram à mente todos os outros que chegaram e ocuparam aquele espaço que havia
ficado vazio. Na vida, algumas coisas são substituídas por necessidade, outras
por conveniência, e no fim das contas o que perdura é raro. Acordei descobrindo o que é ser realista.
Olhei pro meu rosto, e não pude deixar de reparar em como
mudei. Agora dou razão para as inúmeras amigas da minha mãe – aquelas que
apertavam minhas bochechas incansavelmente – que nos encontram na rua e
repetem, espantadas: “esse é aquele gurizinho que andava contigo em todos os lugares?” ou ‘’como ele cresceu... ’’. Eu cresci mesmo, analisando a
altura, mas às vezes me sinto uma criança perdida, que não sabe o que faz nem para onde vai. É, acordei nostálgico.
Olhei pro meu cabelo.
Já foi grande, raspado, sujo... E como sempre, nunca fica do jeito que
eu quero. Existem algumas semelhanças entre ele e a minha vida (guardadas as
devidas proporções): está sempre caindo, às vezes cresce, de vez em quando
tenho vontade de mudar tudo nele, e no fim das contas sempre tem alguém achando que ficaria melhor de outro jeito. Então eu parei de me olhar, essa
viagem revisitando algumas delícias e mais alguns fantasmas já estava ficando
tensa.
É muito estranho analisar a própria vida do lado de fora.
Olho-me nesse reflexo do espelho e não vejo um cara de 22 anos que está na
faculdade e que até já trabalhou – e foi demitido também –. Mais estranho ainda
é lembrar-me de quando tinha uns 10 ou 11 anos e as pessoas ressaltavam minha
maturidade precoce, que hoje em dia parece não se fazer mais presente. Estou
indo no sentido contrário, então? Tudo mudou, e ainda não entendo.
Mas eu também mudei... E talvez aquele eu de um tempo atrás
não se reconheça mais. Acho que acordei
para a vida, enfim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário