O Dia Internacional da Mulher,
instituído pelas Nações Unidas em dezembro de 1977, é celebrado todos os anos
no dia 8 de março, como uma comemoração das conquistas sociais, políticas e
econômicas das mulheres através das décadas. Essa comemoração teve origem na
Rússia, com as manifestações de mulheres por melhores condições de vida e
trabalho, durante a Primeira Guerra Mundial. Desde então, a mulher tem
conquistado o seu espaço em diversas áreas da sociedade e mostrado que o
estigma de sexo frágil é coisa do passado. Luciane Santos, de 32 anos, participa de competições de tiro de laço por todo o Estado e mostra a força
da mulher na lida campeira.
O início
- Faz sete anos que eu participo de tiro de
laço. Comecei a gostar dessas competições quando eu dançava na invernada do CTG
Quero-Quero. Na época que eu comecei, eram poucas mulheres que participavam,
mas nos últimos tempos isso tem mudado. O índice de mulheres participando de
provas campeiras cresceu muito. Ano passado, no rodeio de Porto Alegre,
concorreram cerca de 150 prendas nessas provas. Quando a gente começa, dá um
pouco de medo de laçar só no meio de homens e enfrentar preconceito, a gente
fica assustada, mas depois passa. Os homens, em teoria, são mais fortes que as
mulheres. Mas a mulher também tem a sua força. Quando a mulher quer conquistar
algo, ela vai atrás – conta.
Luciane destaca o orgulho que
sente ao participar de rodeios. Entusiasmada, ela conta que desde o início
dessa trajetória contou com o apoio do marido, Alex Santos, que também
participa de competições de tiro de laço.
- Nunca me imaginei em cima de um
cavalo, laçando. A gente sofre preconceito, mas a mulher está conquistando o
seu espaço em todas as áreas. Cada competição que a gente participa é uma
conquista, é mostrar que a lida campeira não é só para os homens, e mostrar que
somos capazes. Eu aprendi a laçar com o meu marido, que na época era meu
namorado. Ele perguntou se eu gostaria de acompanhar as competições pra
assisti-lo, e eu fui. Eu me perguntava se um dia conseguiria montar num cavalo,
laçar e aprender, e ele me incentivou muito a aprender. Hoje, o nosso filho, que
tem um ano, já demonstra interesse na lida campeira, só de nos ver envolvidos
com isso. Pra mim, é um orgulho – comenta.
Sem medo de dar o primeiro passo
Ela também conta que nas primeiras
competições de que participou, via poucas ou quase nenhuma mulher competindo.
Segundo Luciane, o número de participantes tem aumentado, devido ao incentivo e
a diminuição do preconceito.
- Eu ficava muito nervosa, o
coração batia muito forte. No início, tu queres fazer bonito, não quer errar e
passar vergonha. A minha maior dificuldade mesmo foi enfrentar o preconceito,
mas graças a Deus o pessoal que participa dos rodeios é bem hospitaleiro e foi
se acostumando com a ideia. Acho que as mulheres precisavam de um incentivo pra
se encorajar a participar, e, por isso, hoje em dia o número de prendas nas
competições é bem maior. Não tem mais que se preocupar com isso, temos muito
espaço no meio, e os homens nos respeitam muito. Tem que dar o primeiro passo,
sem pensar naquela pedrinha que tu podes encontrar no teu caminho. Se tu cair,
levanta e vai de novo, sem desistir. Tem que ir à luta. Eu não sabia nem
montar, e aprendi tudo com o tempo. É muito gratificante. Todas as gurias que
vieram me pedir conselhos, hoje em dia estão laçando – revela.
Laço perfumado
A vaidade feminina também é um
destaque nas competições de que Luciane participa. Ela revela que o cuidado com
a aparência está sempre presente nas competições de tiro de laço de prendas e
no tratamento dos animais.
- A mulher tem capricho com a
encilha do cavalo, com a bombacha, com o lenço, com o cavalo... Elas colocam
uma camisa bem bonita, algumas até vão maquiadas. Isso é da natureza da mulher,
e nem a lida impede que a o nosso lado feminino tenha destaque na lida campeira
também - diz.
Maternidade
Luciane não abandonou o mundo das
competições nem durante a gravidez. Ela conta que sempre teve cuidado para não
prejudicar a gestação, principalmente diminuindo o número de participações, mas
que isso não a impediu de continuar e de ganhar prêmios.
- Eu lacei até o sexto mês de
gestação, sempre tomando muito cuidado e diminuindo o ritmo conforme a barriga
foi crescendo. O meu médico dizia pra eu não treinar, mas eu sempre fui muito
cuidadosa e só laçava nas modalidades mais tranquilas. Depois da gravidez, me
resguardei por um mês, mesmo tendo sido uma cesariana. Não fiquei com medo,
pois eu sempre fiz isso e sei me cuidar. No ano passado, um mês depois de eu
ter ganho o bebê, participei do tiro de laço no rodeio de Charqueadas. Eu ia
participar por participar, pois fazia muito tempo que eu não laçava, cerca de
cinco meses. Acabei tirando primeiro lugar e fiquei muito surpresa, mas a
vitória maior foi ver meu filho ali do lado, no colo do pai, me acompanhando
desde pequeno – revela, emocionada.
Tradicionalismo e respeito
Luciane também destaca que o mundo
tradicionalista é diferente do que muitos preconceitos afirmam. Ela garante que
o tradicionalismo tem um ambiente saudável, de paz e amizade, e que pretende
criar seu filho em meio a esses valores.
- Muitas pessoas já vieram me
perguntar “como tu foi te meter no meio daquela gente mal educada, grossa, que
usa faca na cintura?”, e aí eu vejo que o pessoal de fora muitas vezes não
entende a realidade de quem vive o tradicionalismo. É muito mais seguro estar
nos rodeios, junto com os tradicionalistas, pois o pessoal te respeita. Tu
acabas fazendo uma grande família, e é muito gratificante. Considero esse o
lugar mais seguro pra criar o meu filho, pois eu sei que é um meio onde a gente
encontra muito respeito e faz grandes amigos, para a vida toda – conclui.
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