segunda-feira, 11 de março de 2013

Dia Internacional da Mulher - Tiro de laço feminino


O Dia Internacional da Mulher, instituído pelas Nações Unidas em dezembro de 1977, é celebrado todos os anos no dia 8 de março, como uma comemoração das conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres através das décadas. Essa comemoração teve origem na Rússia, com as manifestações de mulheres por melhores condições de vida e trabalho, durante a Primeira Guerra Mundial. Desde então, a mulher tem conquistado o seu espaço em diversas áreas da sociedade e mostrado que o estigma de sexo frágil é coisa do passado. Luciane Santos, de 32 anos, participa de competições de tiro de laço por todo o Estado e mostra a força da mulher na lida campeira.

O início

- Faz sete anos que eu participo de tiro de laço. Comecei a gostar dessas competições quando eu dançava na invernada do CTG Quero-Quero. Na época que eu comecei, eram poucas mulheres que participavam, mas nos últimos tempos isso tem mudado. O índice de mulheres participando de provas campeiras cresceu muito. Ano passado, no rodeio de Porto Alegre, concorreram cerca de 150 prendas nessas provas. Quando a gente começa, dá um pouco de medo de laçar só no meio de homens e enfrentar preconceito, a gente fica assustada, mas depois passa. Os homens, em teoria, são mais fortes que as mulheres. Mas a mulher também tem a sua força. Quando a mulher quer conquistar algo, ela vai atrás – conta.
Luciane destaca o orgulho que sente ao participar de rodeios. Entusiasmada, ela conta que desde o início dessa trajetória contou com o apoio do marido, Alex Santos, que também participa de competições de tiro de laço.
- Nunca me imaginei em cima de um cavalo, laçando. A gente sofre preconceito, mas a mulher está conquistando o seu espaço em todas as áreas. Cada competição que a gente participa é uma conquista, é mostrar que a lida campeira não é só para os homens, e mostrar que somos capazes. Eu aprendi a laçar com o meu marido, que na época era meu namorado. Ele perguntou se eu gostaria de acompanhar as competições pra assisti-lo, e eu fui. Eu me perguntava se um dia conseguiria montar num cavalo, laçar e aprender, e ele me incentivou muito a aprender. Hoje, o nosso filho, que tem um ano, já demonstra interesse na lida campeira, só de nos ver envolvidos com isso. Pra mim, é um orgulho – comenta.

Sem medo de dar o primeiro passo

Ela também conta que nas primeiras competições de que participou, via poucas ou quase nenhuma mulher competindo. Segundo Luciane, o número de participantes tem aumentado, devido ao incentivo e a diminuição do preconceito.
- Eu ficava muito nervosa, o coração batia muito forte. No início, tu queres fazer bonito, não quer errar e passar vergonha. A minha maior dificuldade mesmo foi enfrentar o preconceito, mas graças a Deus o pessoal que participa dos rodeios é bem hospitaleiro e foi se acostumando com a ideia. Acho que as mulheres precisavam de um incentivo pra se encorajar a participar, e, por isso, hoje em dia o número de prendas nas competições é bem maior. Não tem mais que se preocupar com isso, temos muito espaço no meio, e os homens nos respeitam muito. Tem que dar o primeiro passo, sem pensar naquela pedrinha que tu podes encontrar no teu caminho. Se tu cair, levanta e vai de novo, sem desistir. Tem que ir à luta. Eu não sabia nem montar, e aprendi tudo com o tempo. É muito gratificante. Todas as gurias que vieram me pedir conselhos, hoje em dia estão laçando – revela.

Laço perfumado

A vaidade feminina também é um destaque nas competições de que Luciane participa. Ela revela que o cuidado com a aparência está sempre presente nas competições de tiro de laço de prendas e no tratamento dos animais.
- A mulher tem capricho com a encilha do cavalo, com a bombacha, com o lenço, com o cavalo... Elas colocam uma camisa bem bonita, algumas até vão maquiadas. Isso é da natureza da mulher, e nem a lida impede que a o nosso lado feminino tenha destaque na lida campeira também - diz.

Maternidade

Luciane não abandonou o mundo das competições nem durante a gravidez. Ela conta que sempre teve cuidado para não prejudicar a gestação, principalmente diminuindo o número de participações, mas que isso não a impediu de continuar e de ganhar prêmios.
- Eu lacei até o sexto mês de gestação, sempre tomando muito cuidado e diminuindo o ritmo conforme a barriga foi crescendo. O meu médico dizia pra eu não treinar, mas eu sempre fui muito cuidadosa e só laçava nas modalidades mais tranquilas. Depois da gravidez, me resguardei por um mês, mesmo tendo sido uma cesariana. Não fiquei com medo, pois eu sempre fiz isso e sei me cuidar. No ano passado, um mês depois de eu ter ganho o bebê, participei do tiro de laço no rodeio de Charqueadas. Eu ia participar por participar, pois fazia muito tempo que eu não laçava, cerca de cinco meses. Acabei tirando primeiro lugar e fiquei muito surpresa, mas a vitória maior foi ver meu filho ali do lado, no colo do pai, me acompanhando desde pequeno – revela, emocionada.

Tradicionalismo e respeito

Luciane também destaca que o mundo tradicionalista é diferente do que muitos preconceitos afirmam. Ela garante que o tradicionalismo tem um ambiente saudável, de paz e amizade, e que pretende criar seu filho em meio a esses valores.
- Muitas pessoas já vieram me perguntar “como tu foi te meter no meio daquela gente mal educada, grossa, que usa faca na cintura?”, e aí eu vejo que o pessoal de fora muitas vezes não entende a realidade de quem vive o tradicionalismo. É muito mais seguro estar nos rodeios, junto com os tradicionalistas, pois o pessoal te respeita. Tu acabas fazendo uma grande família, e é muito gratificante. Considero esse o lugar mais seguro pra criar o meu filho, pois eu sei que é um meio onde a gente encontra muito respeito e faz grandes amigos, para a vida toda – conclui.







Experiência de vida - Histórias de quem conheceu outras culturas

Para aprender uma língua estrangeira, nada melhor do que um intercâmbio estudantil. Vivenciar uma nova cultura, conviver com pessoas de todas as partes do mundo e ainda adquirir conhecimento é imprescindível para quem quer ser competitivo no mercado de trabalho. Maria Eduarda Nagata e Juliana Berbigier relatam as experiências vividas durante o intercâmbio estudantil.

Preparação

Maria Eduarda Nagata, 16 anos, moradora de São Jerônimo, que fez o intercâmbio “High School” pela World Study, em Junction City, no estado do Oregon, em 2012, revela que a preparação para a viagem é muito importante para que o intercambista consiga adaptar-se a nova realidade.

Maria Eduarda Nagata, primeiro dia na neve
- A agência marca uma conversa contigo e com a tua família, junto com a psicóloga deles. A minha preocupação era engordar demais, e eles me prepararam pra isso, me explicando que seria algo normal, por causa da ansiedade que a viagem gera. Depois, eles fazem reuniões mensais, durante cinco meses, com o grupo dos intercambistas, para preparar o pessoal para viagem – revela.

O início

Ao chegar nos Estados Unidos, Maria Eduarda sentiu que o início não seria fácil. Ela conta que nos primeiros dias sentiu muita saudade de casa, mas que o apoio da família que a recebeu foi fundamental para que ela seguisse em frente.
- Era a minha primeira experiência em inglês, eu tava apavorada. Quando cheguei em Seattle, minha penúltima escala, tentei ligar pros meus pais e não consegui. Daí que a ficha caiu, pensei “não acredito que eu já to aqui, não acredito que eu fiz isso”. Me sentei no aeroporto e desabei chorando. Fui pra lá numa quarta, e só descobri quem me receberia na segunda. Não tive tempo de conhecer a família. Quando eu cheguei, eles foram super receptivos, sempre foram muito legais.  Eles faziam eu me sentir muito acolhida – comenta.

Juliana Berbigier, de 18 anos, moradora de Charqueadas, em 2011 viajou para Plant City, na Flórida, pela STB, onde ficou por seis meses, e revela como foi o seu período de adaptação.

- Senti muita falta da minha casa, da família. Lá a gente é tipo um hóspede, não é a mesma coisa. Eu troquei de família, não me adaptei e pedi pra trocar. Fui morar na casa de uma amiga minha da Alemanha, que também era intercambista. Na segunda família, a gente fazia tudo junto, saíamos todo final de semana, assistíamos filmes, era diferente. Adaptei-me mais rápido, mas não perdi contato com a primeira família – destaca. 
Juliana Berbigier, na Plant City High School
 Maria Eduarda Nagata também conta que a timidez pode atrapalhar na hora de realizar um intercâmbio. Segundo ela, ser comunicativo é imprescindível para fazer amigos e interagir com uma realidade completamente diferente.
- Tu tem que ir muito na cara e na coragem, chegar e conversar com as pessoas, eles não querem invadir o teu espaço. Tu começa a fazer amigos de verdade lá pela metade do intercâmbio, depois de uns dois ou três meses. Fiz muitos amigos no meu último mês lá. Eu queria sair com eles e aproveitar o que eu não tinha feito nos outros meses. Queria muito ter conhecido essas pessoas antes, teve gente que eu conheci três semanas antes de voltar, e não tive tempo de ter muito contato. O último mês foi muito intenso, e passou muito rápido. Eu continuo falando com várias amigos que fiz lá, todo dia.
Tu também fazes amizade com o pessoal que faz parte do grupo de intercambistas. Tu te aproximas delas, conhece a história e te identifica – diz.
Juliana Berbigier revela que aproveitou para conhecer diferentes lugares e pessoas durante o intercâmbio, e que nesse tempo fez vários amigos.

- Eu viajei muito lá. Eu fui pra Disney (eu morava a 40 minutos de lá), fiz cruzeiro com a família, fui pra Jamaica, pro Haiti. Lá tem muita oportunidade, dá pra fazer muitas coisas diferentes. Fiz muita amizade com o pessoal que tava fazendo intercâmbio, de outros países como Japão, Coréia, Rússia, Alemanha, e também com o pessoal da escola que eu estudei - relata.

 Ensino e educação

Juliana destaca a importância da realização do intercâmbio, que aprimorou o seu conhecimento da língua inglesa e da cultura americana.
- Estudei no segundo ano do ensino médio. Lá, tu faz só cinco matérias, e os períodos são bem mais longos. Estudei Matemática,Inglês, Espanhol, História, Criminalística (que envolve Biologia, Física e Química) e Yearbook, que é tipo jornalismo, onde a gente prepara o livro anual com entrevistas e fotos.
Juliana Berbigier, arquivo pessoal
Quando tu faz um curso de inglês, tu aprende a escrever, e muito pouco a falar. Cinco anos estudando inglês aqui, equivalem a seis meses vivendo e aprendendo lá. Se tu for pra lá sabendo pouco, tu volta falando inglês fluente, com certeza. Na primeira semana foi difícil, depois eu entendia tudo que eles falavam, e me comunicava normalmente – conta.

“Sonhando” em inglês

Maria Eduarda comenta que o aprendizado durante o intercâmbio foi enorme, e que com o passar do tempo acostumou-se com a nova língua.
- A vivência do inglês é muito boa, o pessoal é bem compreensivo e te ajuda a aprimorar a conversação. Foi muito estranho chegar lá e ter que falar só em inglês, mas é fácil se acostumar. Quando eu vi, já tava até pensando em inglês. Um dia eu cheguei a sonhar em inglês, e foi a realização da minha vida. Fiquei muito feliz.

Mudança dos hábitos alimentares

Em relação à alimentação, ao fazer um intercâmbio, é preciso ter muito cuidado para não abusar dos fast food’s e das comidas gordurosas.
- Na minha cidade, tinha uns cinco ou seis fast food’s. Eles comem muita porcaria. A família que me recebeu era bem saudável, mas lá isso é bem raro. Comida é sempre muito rápida, pois eles não têm tempo pra parar e comer – explica Maria Eduarda.
Juliana conta que ao voltar para o Brasil teve que fazer mudanças em sua alimentação.
A comida era muito diferente daqui, lá só tem fast food. Quando eu voltei pro Brasil, tive que fazer uma dieta de reeducação alimentar para me readaptar – diz.


Por que fazer intercâmbio?

Para quem gostaria de entrar em um programa de intercâmbio, mas tem receio ou não sabe por onde começar, Juliana e Maria Eduarda deixam alguns conselhos e dicas importantes, que ajudaram ambas a aproveitar tudo que essa experiência pode proporcionar.

Família americana que recebeu Maria Eduarda, os Fioritos
- Não precisa ter medo, é uma experiência que tu vai levar pra vida toda. Vai te fazer crescer como pessoa, traz independência. Isso é muito bom pra se autoconhecer, testar os teus limites e conhecer uma cultura diferente. É ótimo, mas tem que ir com a cabeça aberta pra aceitar o que vier e aproveitar tudo que for possível.  Quando eu fui fazer snowboard, fiquei com receio, mas pensei: “quando eu vou conseguir fazer isso de novo?”, e fui, sem medo. Se eu pudesse, teria feito mais vezes – revela Maria Eduarda.

Segundo Juliana, além do aprendizado e do conhecimento, o amadurecimento pessoal e a independência foram as suas principais conquistas.
- Eu passei por tudo sozinha, não tinha pra onde correr, pois minha família estava no Brasil. Tinha que resolver tudo por minha conta, lidar com responsabilidade com o meu próprio dinheiro aprendi a ser independente. É muito difícil se arrepender de fazer um intercâmbio. Tu sempre sai ganhando, tu aprende muito. O meu intercâmbio valeu muito, aprendi bastante sobre a cultura do país e sobre a língua inglesa. Recomendo a todos que, se puderem, façam um intercâmbio. Foi uma experiência única, adorei ter feito – conclui.

Fotos: Arquivo pessoal